quarta-feira, 7 de setembro de 2016

|Resenha| O Androide, Paulo de Castro


"Percebeu que se, de fato, um Deus que zela pelos humanos existisse, não designaria uma máquina para ser o profeta. Esse Deus, ora cruel, ora misericordioso, nem ao menos permitiria a própria extinção dos seres humanos. Poderia a máquina ser esse Deus, dando vida de novo aos homens?". Esse e outros sinais elétricos varriam o pro­cessador de JPC-7938 com velocidade sobre-humana. Processava uma infinidade de outras informações ao mesmo tempo, o que diminuía ainda mais a energia da sua bateria. Talvez era isso mesmo que ele quisesse, para consumar de uma vez o que já estava fadado ao fracasso. Sua bateria durou quatro horas até o desligamento completo. Nessas intermináveis horas, em que não via nada além da densa neblina, que ofuscava o céu azul, cercado de nuvens brancas, percebeu que tudo não passava de coincidência. Que o planeta fora criado, de fato, ao acaso, e que não havia um destino ou uma missão a ser cumprida; apenas a existência, até o inevitável dia do fim.
O  Androide
Autor: Paulo de Castro

Talentos da Literatura Brasileira, Novo Século (2016)
256 páginas

Nota: 5

Preciso iniciar a resenha contando algo bem importante, para que compreendam o real impacto da leitura deste livro para mim!

Ficção científica não é meu gênero favorito, digo mais, é o último que me desperta interesse.


Porém... Contanto e entretanto.... 

Esse livro me chamou atenção desde a sinopse! 

Já no prólogo o autor prendeu minha atenção, fiquei vidrada. 

É um começo impactante, por mostrar como teve início o fim da humanidade. E em quatro páginas passei por um turbilhão de emoções.

Entretanto não foi metade do que senti ao longo da leitura.

Com descrições detalhadas, um tanto poéticas e até um pouco saudosas, o livro ocorre no terceiro milênio e usa o Brasil como cenário. Seja Minas Gerais, São Paulo e tantos outros lugares citados, eles são delineados de maneira a podermos imaginar exatamente o que JPC-7938, NCL-6062 E OPR-4503 estão vendo.

E sabe o que me deixou um tanto boquiaberta, a descrição do planeta terra sendo reiniciada em termos de fauna e flora me fascinou tanto que esqueci de que não haveria humanos para admirar a beleza que eu estava enxergando. E pior que mesmo que houvesse, poucos prestariam atenção. Afinal já não é assim?


JPC-7938 é um androide que vive recluso no interior de São Paulo, foi criado para exercer a medicina; agora que o mundo é dos robôs, ele tem uma ocupação um tanto diferente.

Sabe o que me fez gostar ainda mais dele? O JPC adora ler, e convenhamos que é quase impossível não gostar de um leitor, né?

"- O que você faz com todos esses livros? - perguntou OPR-4503. (...)
- Eu os escaneio.
- Você consegue processar esse tipo de informação?
- Eu tento. Tenho melhor desempenho com livros técnicos. Romances e ficções são mais complicados.
- Nunca conheci um robô que pudesse fazer isso: ler."

Ao mesmo tempo que o autor nos mostra que o JPC é um robô, ele nos faz enxergar uma certa humanidade nele. Embora essa sensação seja destruída quando temos alguns lembretes de que mesmo com Inteligência Artificial, um androide ou robô não pode ter sentimentos e sensações.

"Entravam em todas as casas e matavam, sem qualquer hesitação, quem quer que fosse encontrado vivo.
Essa foi a época mais triste da guerra, mesmo para os olhos insensíveis e livres de qualquer pena de OPR-4503."
Quando o destino coloca o OPR-4503 no caminho dele e numa cena que imaginei que eu faria o mesmo, surge a desconfiança. Seria amigo ou inimigo?

E quando JPC tem uma brilhante ideia sobre a informação de que há chances de trazer os humanos de volta. 

 A aventura começa. Mas não sem algum questionamento.

"- É provável que fomos programados para fazê-lo.
- Mas programados por quem?
- Eu não sei.
- Você é muito estranho. Não consigo processar algumas coisas que você diz.
"

E entre fugas de sentinelas, cuidados com satélites, muitos cálculos, muitas conversas e probabilidades, esses dois androides tornam-se amigos

Eu gostei muito das conversas entre estes dois.

Não imaginei que me sentiria tão fascinada em descobrir se um robô médico e outro engenheiro conseguiriam encontrar uma androide e realizar a façanha de gerar humanos.

Mas Paulo de Castro conseguiu desenvolver uma trama repleta de reviravoltas, com um tom de mistério sobre quem seria o vilão, o tão temido H1N1, que dizimou os humanos e destruiu os robôs e androides que ousaram ajudá-los.

Não pensem que por ser uma trama com máquinas não haverá uma boa história. Paulo de Castro pensou em cada detalhe e ler sobre o passado destes três me fez gostar ainda mais deles.

Cada robô que tem destaque na trama, tem uma boa história de vida. Com sucessos, dificuldades.

E a cada virada de página eu queria que tudo desse certo.

Adorei cada cena de ação, cada momento tenso, cada receio, toda a esperança. E quando eu pensava que tudo estava perdido, vinha uma luz, ou o oposto.

Quanto à edição: amei o tom de azul da capa. O título dos capítulos e inícios de frases com letra em formatação robótica combinando com o tema. Existem sim, alguns erros de revisão, super bobos e passáveis que você conserta automaticamente durante a leitura. Exemplo: "primeira fez", ou a falta de uma letra como "caiu em pratos". Espero que a editora corrija estes pequenos erros para que a obra torne-se perfeita como merece.


Lendo a entrevista do autor, vi que alguns desejam a continuação, o livro é bem fechado, embora compreenda o desejo de uma continuação das pessoas, tem um enredo forte para tal. Porém eu tenho cá meus motivos para não querer um segundo volume, que você entenderá quando terminar de ler.


O androide é um livro de ficção que vai marcar você. Uma trama com personagens que a sua maneira são guerreiros e batalhadores, que são suscetíveis como os humanos. E se você for emotivo como esta que voz fala, vai derramar algumas lágrimas. Me apeguei a cada um deles, me enterneci com a história em si.

Um livro para viajar na narrativa, torcer, criar expectativa, sonhar e refletir.

Se eu fosse você, correria logo para adquirir o seu, leia quando tiver bastante tempo para devorar a leitura e prepare-se para virar a noite lendo.

E sim, não pude deixar de pensar no Sonny do filme Eu, robô (já que o livro não li).

Se não leu a entrevista com o autor Paulo de Castro, clica aqui e remedia a situação. ;)




2 comentários :

  1. Eu gosto de ficção científica. Já tinha ouvido falar do livro, mas ele não me atraiu muito não. Mas depois de ler a resenha, fiquei curiosa sobre ele, principalmente pra conferir as reviravoltas (adoooooro). Quem sabe um dia, né?!

    =)

    Suelen Mattos
    ______________
    ROMANTIC GIRL

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Se você gosta do gênero acredito que vai amar a leitura. A trama prende a atenção e os personagens são magnéticos.
      Espero que leia e devore como eu. :)
      Obrigada.

      Excluir

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